O Assassino de Mulheres do Passado - Parte 1


As ruas da cidade eram pequenas perto da profundidade dos olhos cheios de esperanças perdidas daquele homem, que procurava uma mescla de sentimentos entre justiça e vingança por entre o atrito de seu cérebro formulado com seu coração imensuravelmente partido. Tudo ficaria mais sóbrio quando chegasse ao seu destino.
Subindo devagar aqueles pequenos degraus escorregadios pela chuva, com suas botas expelindo água quando tocavam o solo, se portou e tocou a campainha enquanto arrumava seu chapéu e conferia seu encharcado terno. A moça entre abriu a porta de maneira com que só ela tivesse a visão do que esta ali fora, mas já era tarde demais. Com um chute carregado de rancor no centro da porta, as dobradiças se renderam, arremessando a mulher. O homem, sem dizer nada, se aproximou devagar do corpo jogado ao piso luxuoso da sala de estar, sentou ao lado do rosto demasiado da pobre garota, entrelaçou sua mão recoberta de grossas luvas por entre os cabelos loiros da moça, e a puxou sem olhar pra traz. Ao acordar, a garota já estava em seu próprio jardim, coberta de lama e de seu próprio sangue. Quando observou ao seu redor, encontra o homem, com uma pá, pronto para iniciar a escavação do que seria seu futuro. Na tentativa de fugir, percebe seu tornozelo acorrentado ao pinheiro de seu jardim, e o desespero toma conta de seu corpo ofegante e gélido. Quando, enfim, a escavação estava completa, o homem se aproximou calmamente da garota, como quem vai comprar um jornal pela manhã. Retira o cabelo de seus olhos, ela tenta impedir que ele o toque, mas se rende ao final. Ele olha fixamente para seu rosto, respira profundamente, se aproxima de seu ouvido, e diz em voz baixa – Vou te colocar aonde você deixou meu coração... Em baixo deste solo medíocre de sua casa.
Entrelaça novamente suas mãos no cabelo da mulher, que a esta altura já não tinham a mesma coloração. Seus gritos não surtiam efeito na vizinhança e nem no rapaz, que logo mais arremessaria a mulher dentro do fundo e obscuro buraco. Antes mesmo que ela pudesse respirar para gritar novamente, ele arremessou um punhado de terra que já recobriria seu rosto, a sufocando por um tempo. Rapidamente ela se limpa, mas o processo se repete até que a terra recobrisse seu corpo inteiro. O homem aguarda o encerramento dos movimentos subterrâneos e agoniados da mulher para concluir o fim da escavação. Retira os resquícios de terra do terno e de suas botas, lava as mãos com água da chuva, joga a pá no chão, e retorna para as ruas já perto do amanhecer, para agora sim, poder comprar seu jornal.